Sunday, April 14, 2013

Despedida

O texto não é meu, mas queria muito que fosse. Um conto de José Mena Abrantes.

 
DESPEDIDA

Por acaso as casuarinas também estavam presentes nesse ocaso. Passeavam ambos à beira-mar e o momento era de despedida: do sol e deles dois, que também já haviam concluído os seus brilhos. Despedir significava, pois, isso mesmo: não voltar a pedir, ir embora para sempre. Por que razão terminavam sempre assim os mais realizados entendimentos? Não se sabe, ou talvez fosse por causa disso mesmo: pela realização, pelo perfeito completamento das atrações, pela permuta total de afectos, pela cumplicidade e o enigma. Se haviam conhecido em irrepetíveis coincidências e cumprido os inevitáveis ciclos do amor. Para que então adiar o necessário acabamento? Se beijaram pela última vez. Com alguma e dolorosa tristeza, como não podia deixar de ser. Já em contra-luz, as cabeleiras despenteadas das casuarinas lhes confirmaram murmurantes as suas mais assumidas certezas: só mesmo o verdadeiro amor não traz a felicidade!

Lembranças