Monday, December 31, 2012

Alice não me escreva

Tão querida Alice:       
 
        Um dia todas precisamos de um senhor Yang. Woody bem sabe disso. Surge aquela dor nas costas, a ausência, o vazio... e então chegou a hora de Yang. Jovens senhoras meio cansadas caminhando para um jardim solar repleto de poções mágicas. Crescer e diminuir, mudar tão rapidamente que tudo parecerá estranho, até não mais ser. Bater na porta e dizer: "olá, aqui mora minha percepção?". E perceber que circularmente ela mora no mundo, já estamos nela. Só é preciso vez ou outra, ainda que não se saiba de que lado ir, ir.
        Mais uma vez, Alice teve de esperar com paciência enquanto a Lagarta acabava de fumar. Em seguida, ela se espreguiçou, se sacudiu, desceu do cogumelo e foi se arrastando pela grama, dizendo enquanto se afastava:
        - Um lado te fará crescer e o outro lado te fará diminuir.
        "Um lado do quê? O outro lado do quê?" - pensou Alice.
        - Do cogumelo, é claro! - disse a Lagarta, como se tivesse ouvido o pensamento de Alice. E sumiu de vista.
        Alice ficou olhando pensativa para o cogumelo por um minuto, tentando descobrir quais eram os dois lados. Como o cogumelo era perfeitamente redondo, ela achou que essa era uma questão muito difícil. Por fim, esticou os braços o mais que pôde em volta do cogumelo e tirou um pedacinho de cada lado.
(Alice no país das maravilhas, Lewis Carroll, Cosac, p. 59.)
 
        Alice não me escreva, venha me visitar. Traga consigo o Sol, mas não o calor. Também não se esqueça de trazer os maravilhosos sonhos da padaria perto de sua casa. Farei um Earl Grey para nós.

Beijos,
H.

Lembranças