Friday, February 12, 2010

Richard Yates

Terminei "Disturbing the Peace", de Richard Yates. Ele inicialmente me pareceu previsível, e se mostrou previsível no final. Mas isso não foi ruim.

O próprio autor, pela voz de um produtor de cinema que analisa a história, chega à conclusão que ela beira o cliché. Sim, há a história na história mostrada por meio de um script baseado num episódio da vida do personagem principal, John Wilder. Esse script anuncia o final do livro que está nas mãos do leitor. E acho que aí reside o encanto de Yates. Ao menos para mim. Porque a literatura, quando representa a vida das pessoas comuns, cai em diversos lugares-comuns. Nossos sonhos são comuns (e até mesmo previsíveis).

O mais interessante nesse livro, dito como um dos mais fracos de Yates pela crítica, é acompanhar John Wilder (o nome e sobrenome dele já indicam o rumo dos acontecimentos...) até ele se considerar O escolhido e, finalmente, se encaixar como "wilder" na sociedade. Nada é comentado sobre a concretização do script, o filme (que parece nunca ser realizado), seu grande sonho, ao final da narrativa. Teria sido aquilo mais um delírio? Sei lá, tenho a impressão que os críticos foram preguiçosos ao ler "Disturbing the Peace". Uma pena. Ou não.

Continuarei com Yates por um tempo. "Eleven Kinds of Loneliness" (onze contos) e "Liars in Love" (cinco contos). "Revolutionary Road" ficará para o final.

P.S.: o primeiro parágrafo do romance, "Disturbing the Peace", começa com o foco em Janice, a esposa de John Wilder: "Everything began to go wrong for Janice Wilder in the late summer of 1960. And the worst part, she always said afterwards, the awful part, was that it seemed to happen without warning". E não à toa encontramos no segundo parágrafo: "(...) She enjoyed the orderly rotation of her days; she enjoyed books, of which she owned a great many; and she enjoyed her high, bright apartment with its view of midtown Manhattan towers. It was neither a rich nor an elegant apartment, but it was comfortable - and 'comfortable' was one of Janice Wilder's favorite words. She was fond of the word 'civilized', too, and of  'reasonable' and 'adjustment' and 'relationship'. Hardly anything upset or frightened her: the only things that did – sometimes to the point of making her blood run cold – were things she didn't understand." Temos o prenúncio do que ocorrerá, John Wilder será o anti-herói do mundo de Janice (ela nunca o entenderá). Nada 'civilized', 'reasonable', 'adjustment'. Longe disso.

Lembranças