Friday, November 05, 2010

Às vezes só dá vontade de ficar assim. Lendo alguns poemas de Manuel Bandeira, dentro de casa, deitada, comendo besteiras, imitando gato, miando alto, pegando pedaços de romances e juntando cada um deles para fazer um texto à la Frankenstein. Rasgando papéis, separando livros esquecidos para alguma biblioteca. Ligar a TV e encontrar um reprise de "Anos incríveis". Ah, mas nenhum canal passa mais essa série. Demodè, mon cheri. Treino o envio de mensagens telepáticas aos grandes amigos distantes: "Júlia, não lhe escrevo porque travei. Sinto sua falta.", "Rogério, gosto de receber seus haicais.", "Rogério [o músico], queria ouvir suas ideias sobre o mundo, sempre tão renovadoras e livres!", "Susu, falta-me a sua alegria.", "Grazie, falta-me seu idealismo.", "Kiki, falta-me sua paixão de viver.", "Tetê, falta-me sua melancolia filosófica.", "Stelinha, falta-me sua presença.", "Fu, falta-me sua generosidade.". Um buraco gigante de ausências, mas treino a telepatia. Enquanto isso, enquanto isso, enquanto isso, dentro de casa, deitada, assistindo a uma novela antiga dou um último miado para assustar a gatinha que se acomodou sobre alguns livros.

Lembranças