Tuesday, September 08, 2009

O pulo na piscina de água fria

Não sei dizer bem. A gente lê Homero e de quebra a "Poética". Lê Poe, lê Guimarães, Drummond (sempre) e outros e outras. Uma infinidade de nomes para lembrar que eu não sei dizer bem. Um amigo, depois de uma aula de crítica literária sobre uma obra da Clarice, lamenta não conseguir tirar nem 10% do que a professora analisou em sala. Achava-se, digamos, meio incompetente por isso. Lembrei que a Clarice não fazia revisão daquilo que escrevia. Dizia ela odiar reler seus livros e textos e, assim, simplesmente jogava seu trabalho para o mundo. Hoje eu teria uma aula de estudos literários dizendo as maravilhas do conto de Tolstoi chamado "Depois do baile". Li este conto no banheiro, sozinha (claro) e num dia frio. Estava com insônia e não queria atrapalhar o sono do Ed e dos gatos. Sem TPM, sem tomar nada (nem birita, nem hormônios), fiquei emocionada de forma inexplicável. As explicações em sala de aula, por outro lado, fazem eu pensar na lista de compras do supermercado: o texto vira um cadáver dissecado por um bom médico. Não quero saber tudo de um texto. Troco a ignorância eterna em relação a isso por saber dizer, saber escrever. Não quero ser o médico legista, quero ser o escritor e sua epifania. Delírio. Estes tempos tive uma ideia para um romance policial. Fiquei com medo de escrever. Nada de folha em branco, nada de travar a escrita por falta de criatividade. Simplesmente fiquei com medo de produzir um universo construído por mim, dar para alguém bom ler e descobrir finalmente e realmente que... não sei dizer. E fiquei com medo de dar certo. E aí? E depois? Um velho conhecido me disse que para se ter filhos é preciso não pensar. O mundo é muito ruim, a grana é curta para a educação imaginada, há a possibilidade de o filho não gostar de música (sacrilégio!) e, pior ainda, não ir com a sua cara. A lista de contras é grande. E ele diz: "ter filho é como se jogar em uma piscina fria: dá o frio na barriga, mas depois vem uma sensação boa. Às vezes". Eu digo: pensando deste modo, escrever é parir - sem figura de linguagem.

Lembranças